“Por que você colocou seus filhos de 3, 4 ou 5 anos para estudar violão, violino, piano, violoncelo ou flauta doce?” Essa foi uma pergunta que fiz numa reunião de pais na Escola de Música Suzuki de São Paulo – Projeto Cordas & Cia.
Músico profissional?!
Nenhum pai disse que gostaria que seu filho se tornasse um músico profissional ou um concertista. E essa afirmação é recorrente. Edward Kreitman, em quem nos inspiramos para reproduzir a pergunta, em seu livro Teaching From the Balance Point, registra que inaugurou um ano letivo numa escola estadounidense e fez essa pergunta aos pais, relatando exatamente o mesmo resultado. Com efeito, nossos filhos serão advogados (experiência própria!), engenheiros, médicos, dentistas, economistas, administradores, contadores, auditores, professores, servidores públicos. Ora, se esse não é o objetivo de um pai, por que aprender música na infância? Imagine um músico que toca um concerto, ao lado do maestro, e tem, ao fundo, uma orquestra sinfônica acompanhando. Esse músico toca lindamente por 20 ou 30 minutos sem ler uma partitura. Que habilidades ele precisou desenvolver? Podemos responder indicando 3 benefícios proporcionados à criança com o aprendizado da música:
1. Fortalecimento de vínculos saudáveis no relacionamento pais-filhos
Isso acontece quando os pais acompanham a aula de seus filhos com os professores, tomam notas e acompanham a lição de casa, ajudando a criança a ter autonomia para superar desafios. Isso também possibilita aos pais criar um ambiente musical na vida de sua família: seja colocando música para ouvir em casa ou levando a família para assistir musicais, concertos, recitais. Há diferentes formas de se aprender música. Mas o triângulo Suzuki (criança-pai-professor) é impressionantemente poderoso: precisa estar em perfeita sintonia e as três partes precisam confiar no trabalho do outro.
2. Desenvolver habilidades que transcendem a música
Diversas habilidades podem ser adquiridas, tais como concentração, disciplina, organização, autoestima, superação de desafios, colaboração, memorização, criatividade, persistência, paciência, independência, dentre outras mais gerais como atitude e caráter. O músico concertista que imaginamos ao lado do maestro, certamente precisou ter essas habilidades não musicais. Uma criança que está estudando há 3 ou 4 meses pode muito bem dizer “não quero mais aprender música” ou “não gosto de violão”, ao contrário do que essa criança revelou no passado. Claro em alguns casos deve ser feito uma investigação mais profunda, mas, na maioria das vezes, o que se passa é que a criança encontrou uma dificuldade e está “fugindo” de procurar um diálogo ou uma solução. É o momento do pai enfatizar o aprendizado de habilidades importantíssimas para a vida, tais como persistência, resiliência, paciência. Isso sem falar na busca da excelência e do belo, com o desenvolvimento do espírito crítico, para discernir o resultado medíocre do excelente! Evidentemente que essas duas razões estão presentes no aprendizado de esportes ou de outras artes (marciais, escultura, desenho, pintura) e produzem excelentes resultados. Mas a música possibilita também:
3. Desenvolver habilidades musicais
Relaxamento postural (ou utilização de tensão apenas nos músculos que necessitam ser tensionados), ouvido interno (a lógica das notas, que possibilita tocar de ouvido usando a inteligência musical), tocar junto com outras pessoas (duetos, trios, quartetos, orquestra), leitura de símbolos musicais (interpretação da escrita musical, uma segunda língua, universal), beleza do som, afinação, musicalidade (fraseados musicais, dinâmica, interpretação de músicas de Mozart, Bach, Vivaldi, Beethoven, Paganini, Tchaikovsky, Brahms, Prokofiev, Stravinski, Villa Lobos…). O desenvolvimento da audição, um dos sentidos do ser humano, é um mundo de aprendizados. Há muito que se explorar na compreensão do estilo de música, seja ela antiga, medieval, barroca, clássica, romântica, moderna até o estilo popular ou eletrônica. Educar a sensibilidade da escuta é uma oportunidade ímpar!
Conclusão
“O destino de uma criança está nas mãos de seus pais”, leciona Shinichi Suzuki, no livro Educação é Amor. Suzuki viveu quase 100 anos (1898-1998). Foi violinista e pedagogo, que influenciou muitas gerações de educadores e educandos a partir de sua filosofia, que se difundiu pelo mundo todo, tendo conquistado inicialmente os Estados Unidos e hoje está presente em todos os continentes. Cabe aos pais a responsabilidade da escolha. A educação musical é um presente que uma criança levará para o resto de sua vida, aplicando as habilidades, aprendidas em uma arte, em sua vida cotidiana com a família, amigos, colegas de profissão futuros e com a sociedade em geral.
Marcos Osaki
Assista à apresentação em público dos alunos!