Música e Empatia: A Arte de Sentir o Outro

Imagine uma criança segurando um violino pela primeira vez. Seus dedos tremem, sua expressão é de concentração, e ao seu lado, um professor toca junto, transmitindo confiança. Aos poucos, as notas ganham forma, e a conexão entre eles se fortalece. Essa cena é comum no ensino musical, mas vai muito além da aprendizagem de um instrumento: trata-se da construção da empatia.

A empatia é a capacidade de compreender e compartilhar emoções alheias. A música, por sua vez, é uma linguagem universal que traduz sentimentos sem a necessidade de palavras. Quando uma pessoa ouve ou executa uma melodia, seu cérebro ativa áreas relacionadas à identificação emocional, como o córtex pré-frontal e o sistema límbico (Koelsch, 2014).

Estudos em neurociência demonstram que tocar um instrumento musical estimula a liberação de ocitocina, um hormônio ligado às interações sociais e à construção de laços afetivos (Huron, 2001). Isso significa que a prática musical não apenas aprimora a técnica, mas também fortalece o vínculo entre professor e aluno, pais e filhos, colegas de grupo e até mesmo entre desconhecidos que compartilham a experiência de um concerto.

O Método Suzuki, amplamente utilizado na educação musical infantil, parte do princípio de que “toda criança pode aprender” em um ambiente de encorajamento e cooperação (Suzuki, 1983). Dentro dessa abordagem, a música é ensinada como uma extensão da linguagem materna, o que incentiva a escuta ativa e a compreensão emocional desde os primeiros anos de vida. Crianças que crescem em um ambiente musical são expostas a um repertório rico em nuances emocionais, tornando-se adultos mais sensíveis ao estado emocional dos outros (Hallam, 2010).

Não é por acaso que a música é usada em terapias para fortalecer habilidades sociais e emocionais. Programas que utilizam música em contexto educacional demonstram que alunos que participam de atividades musicais em grupo desenvolvem maior capacidade de cooperação e reduzem atitudes agressivas (Rabinowitch, Cross & Burnard, 2013). O envolvimento com a música ajuda a perceber e responder ao outro de maneira mais empática, uma habilidade essencial em qualquer relação humana.

Em um mundo cada vez mais acelerado e individualista, a música resgata a necessidade do sentir junto, do ouvir com atenção e do se conectar genuinamente. Ao incentivarmos o aprendizado musical, não estamos apenas formando músicos mais habilidosos, mas também seres humanos mais compreensivos e solidários. Afinal, a empatia é, antes de tudo, uma arte que pode ser cultivada nota por nota.

Referências

HALLAM, S. The power of music: Its impact on the intellectual, social and personal development of children and young people. International Journal of Music Education, v. 28, n. 3, p. 269-289, 2010.

HURON, D. Is music an evolutionary adaptation? Annals of the New York Academy of Sciences, v. 930, n. 1, p. 43-61, 2001.

KOELSCH, S. Brain and music. Hoboken: Wiley-Blackwell, 2014.

RABINOWITCH, T. C.; CROSS, I.; BURNARD, P. Long-term musical group interaction has a positive influence on empathy in children. Psychology of Music, v. 41, n. 4, p. 484-498, 2013.

SUZUKI, S. Nurtured by Love: The Classic Approach to Talent Education. 2. ed. Miami: Summy-Birchard, 1983.

Deixe um comentário

Ir para o WhasApp
Escola de Música Suzuki
Ficamos felizes que esteja aqui!
Como podemos ajudar?